Bravery & Greed – Análise

Bravery and Greed é um beat ’em up, um roguelite e um dungeon brawler que suporta até quatro jogadores em modo local ou online. Este pequeno e interessante jogo mistura vários elementos mas será que resulta numa fórmula de sucesso?

No Bravery and Greed nós podemos vestir a pele de uma das quatro personagens disponíveis, são elas: o Guerreiro; o Rogue; o Feiticeiro e a Amazona. Cada classe possui os seus próprios ataques e combos e a escolha vai depender do tipo de jogador que tu és sendo certo que todas elas têm um talento natural para a pancadaria.

Estes quatro heróis (ou vilões dependendo da perspetiva) têm um só interesse em comum: O OURO! Todas as aventuras, todos os confrontos e inimigos são derrotados com ouro em mente e os mais gananciosos são os que enchem mais os bolsos. Não é por acaso que o jogo se chama “Bravery and Greed” porque depois da coragem necessária para a ação resta apenas a ganancia para levarmos para casa o nosso tesouro.

A “ganancia” neste caso é mencionada como um elemento humorístico em parte porque nos jogos PvE ou PvP há uma competição constante por dinheiro. Aquele que no final tiver mais dinheiro consigo é o grande vencedor e isso é o catalisador para muitos momentos hilariantes a jogar com amigos.

Tudo começa com a revelação de um anão…

O Rogue está sempre à procura de ganhar um ouro extra e numa noite de copos com os seus companheiros heróis, ele revela que em conversa com um anão, ficou a saber que há uma caverna secreta e que no seu interior se encontra um portal para o mundo dos anões. Esse mundo é especial porque está cheio de ouro e de acordo com a lenda, quem o visitar e conseguir juntar um conjunto especial de artefactos, terá a oportunidade de entrar no paraíso dos anões e aceder a uma fortuna inimaginável.

É claro que os nossos heróis – tal como qualquer outro jogador de Euromilhões – não conseguem resistir à ideia de dinheiro fácil e decidem então embarcar numa aventura com muita pancadaria para distribuir e ouro para se ganhar.

Mas se por um lado é verdade que há muito ouro para se ganhar, pelo outro é completamente mentira que isso será uma tarefa fácil ou não fosse a morte permanente neste jogo….

A ganância tem estilo

Visualmente Bravery and Greed escolheu o caminho “old school” adaptado aos tempos modernos num jogo 2D colorido povoado por cenários e personagens detalhados e com uma qualidade de animação muito boa.

O jogo tem uma identidade própria e é visualmente diferente de todos os outros roguelites no mercado apesar de muitas das mecânicas de jogo serem semelhantes. Num género cada vez mais saturado é importante que um novo jogo tenha algumas características visuais distintivas.

Bravery and Greed faz-se valer de um estilo artístico único e que consegue traduzir para o ecrã o elemento humorístico do jogo. À semelhança do que vemos em videojogos de referência como o Dead Cells, nota-se que a equipa de desenvolvimento deu especial atenção à criação do Universo peculiar deste jogo e como consequência existem pormenores deliciosos (por exemplo: o feiticeiro segurar o seu longo chapéu quando corre).

Até pequenas secções de caverna que deveriam ser menos impressionantes estão cheias de detalhes se as observarmos com atenção. Os efeitos de luz são igualmente bons e mesmo quando o caos se instala no ecrã consegue-se distinguir grande parte do que se passa graças à qualidade das animações.

Estilo e personalidade é o que não falta a Bravery and Greed que pode não ser uma obra prima mas é sem dúvida alguma mais um excelente trabalho 2D que prova que a morte anunciada das duas dimensões há várias décadas atrás não só foi uma precipitação, como estava completamente errada.

Banda sonora e efeitos sonoros de qualidade

Toda a ação de Bravery and Greed decorre num Universo medieval exuberante e a banda sonora e os efeitos sonoros refletem isso na perfeição. Aliás foi um elemento que até me surpreendeu porque apesar de hoje em dia as equipas de desenvolvimento terem à sua disposição muitos recursos, que tornam difícil falhar neste departamento, há muitas que mesmo assim não são bem sucedidas.

Felizmente não é o caso deste jogo. A banda sonora contribui para o ambiente e é polvilhada com os inevitáveis elementos de humor que a tornam divertida mesmo nos momentos em que estamos na iminência da derrota. Já os efeitos sonoros são imersivos e têm aquela característica viciante em que dá gosto, por exemplo, ouvir o ataque da nossa espada enquanto trespassamos hordas de inimigos.

A banda sonora de temática medieval também ajuda à criação de alguns momentos épicos sem nunca impor demasiado a sua presença. Todo o trabalho realizado no departamento sonoro tem uma qualidade acima da média e não esperávamos menos de um roguelite cuja experiência assenta muito na repetição.

A jogabilidade

Bravery and Greed tem morte permanente, ora isto significa que quando nós perdemos somos obrigados a começar tudo de novo. À semelhança de outros roguelites não perdemos todo o nosso progresso e na derrota há sempre espaço para evoluir e melhorar.

Apesar disso, um jogo com morte permanente envolve uma componente de repetição e ela acarreta sempre o risco do tédio. E se a jogabilidade já é fundamental em qualquer videojogo, ela é ainda mais importante naqueles pelos quais passamos por ciclos de repetição.

E Bravery and Greed não desilude neste departamento e apresenta uma jogabilidade com fundamentos simples mas polida. Apesar de ser na sua base uma experiência de ação e plataformas 2D, a jogabilidade possui algumas variações.

Cada uma das quatro personagens possui os seus próprios ataques. O Guerreiro e a Amazona são mais vocacionados para o combate corpo a corpo e são mestres no domínio da espada, o Rogue mistura combate corpo-a-corpo com técnicas de evasão e ataques à distância com arco e flecha, o Feiticeiro consegue evocar um “elemental” e tal como o Rogue também é útil no combate à distância.

Apesar de existirem quatro classes, na realidade são mais duas: os do corpo-a-corpo e os que conseguem fazer também estragos atacando à distância. Gostava de ter visto mais classes ou até mesmo mais personagens dentro das classes existentes.

Juntamente com a escolha da classe durante o jogo também podemos tomar decisões que alteram as habilidades da nossa personagem. Árvores de “skill” focados em três aspectos (Caos, Ordem, Escuridão e Vida) oferecem melhorias e novas habilidades especiais, para além disso os “drops” de equipamentos são constantes e também eles alteram um pouco a experiência a cada nova sessão de joigo.

Jogar Bravery and Greed envolve muitos saltos, ataques constantes e a utilização de habilidades. No combate a jogabilidade é muito boa, os comandos são precisos e destruir inimigos é uma experiência divertida e recompensadora (ou isso não resultasse em toneladas de ouro para os nossos bolsos). Os saltos não são maus, mas talvez alguns jogadores necessitem de um pouco de habituação porque as personagem saltam bastante mais alto do que costuma ser a norma neste tipo de experiências.

Um tutorial e salas de treino ajudam-nos a ficarmos mais familiarizados com todos os controles e combinações. O maior desafio nesta fase não é aprender a jogar mas sim aprender a dominar os movimentos das personagens na perfeição e perceber quais são os mais eficazes dependendo dos inimigos que defrontamos.

Muitos modos de jogo

Um dos aspetos mais surpreendentes de Bravery and Greed é o número de modos de jogo disponíveis. Ao todo são quatro:

• Aventura
  • Um modo no qual podemos jogar sozinhos ou com amigos. Nível a nível o objetivo é destruir os inimigos, encher os bolsos de riquezas e defrontar o “boss” no final. Como os níveis são gerados aleatoriamente, sempre que os repetimos eles têm uma disposição diferente.

• Horda
  • Também podemos jogar sozinho ou com amigos e o objetivo neste modo de jogo é simplesmente ir derrotando vagas de inimigos que vão aparecendo.

• 1V1
  • Tu e um amigo podem medir forças neste modo.

• 1X1 em equipa
  • Junta-te com amigos e participa em combates divertidos e caóticos.

O jogo suporta multijogador de todas as formas e feitios. Multijogador online; local; com ecrã partilhado e para além disso suporta o Steam Remote Play. Ou seja, se um dos teus amigos comprar este jogo na Steam, tu poderás jogar com ele através do remote play sem teres adquirido o jogo.

Com tantas opções Bravery and Greed posiciona-se como uma das experiências a considerar por todos aqueles que procuram diversão em grupo. Começando no modo Aventura no qual todos se unem para defrontarem inimigos; passando pelo Horda onde podemos testar os nossos limites e até os modos mais competitivos de PvP. Há muita variedade neste pequeno jogo e isso deixou-me bastante satisfeito.

Depois há o elemento hilariante da “ganância” quando jogamos com amigos. Por exemplo, quando um amigo morre nós podemos revitalizá-lo, no entanto também vamos “à sua carteira” e metemos algum ao bolso. Afinal de contas alguém tem de ganhar com a desgraça alheia não é verdade?

Há muito para fazer neste jogo mas confesso que os modos PvP não são os meus preferidos. O 1V1 torna-se aborrecido rápido demais enquanto o 1X1 em equipa tem um pouco mais de longevidade mas é demasiadas vezes caótico.

É claro que é bom que existam opções, contudo este jogo brilha muito mais em PvE do que em PvP e principalmente mais no modo Aventura do que em qualquer outro.

Simples, divertido e viciante

Estas são as três qualidades que eu considero mais importante num roguelite e em Bravery and Greed encontrei-as todas. Este jogo não tenta ser o melhor roguelite de sempre, mas a sua natureza cooperativa coloca-o à frente de muita concorrência no mercado.

A experiência pode ser desfrutada a solo e não perde o brilho se assim for, mas é inegável que o jogo está no seu melhor quando é desfrutado por um grupo de amigos. Junte-se a isso o sentido de humor sempre presente e o facto de qualquer desacordo poder ser resolvido “À PORRADA!” no modo de multijogador e eu acredito que há muitas horas de divertimento neste roguelite.

Última atualização: Novembro 17, 2022 às 09:37