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Hellion: Diário de Sobrevivência (parte 1)

hellion

Hellion é um jogo de sobrevivência espacial que se encontra disponível na Steam através de uma versão de acesso antecipado. Neste novo formato de artigo eu vou partilhar a minha experiência, com alguns embelezamentos literários pelo meio, mas tentando manter-me fiel às sensações vividas enquanto estava a jogar.

Hellion: Diário de Sobrevivência (primeira parte)
Desde miúdo que eu sempre fui fascinado pelo desconhecido, porém não fazia ideia de que um dia esse mesmo fascínio levar-me-ia a acordar de uma animação suspensa no interior de uma cápsula criogênica…

A minha aventura começa aqui, sozinho, desorientado e acompanhado apenas por algumas memórias desconexas e uma incontrolável vontade de sobreviver…

A sensação que tenho é a de que estou a sonhar acordado, talvez sejam os efeitos de um longo período em animação suspensa, mas de qualquer forma tenho de sair daqui e preciso de abrir esta cápsula. Os meus primeiros e dolorosos passos confirmam-me que de facto acordei de um estado de animação suspensa.

Há quanto tempo é que eu estou a dormir?

Do meu lado esquerdo está o que parece ser uma cama num estado imaculado, do meu lado direito e mesmo com a visão um pouco turva consigo distinguir uma janela. Suspiro de alívio ao sentir alguma familiaridade, sei que devo estar numa espécie de quarto e isso conforta-me um pouco.

Hellion Screenshot

Aproximo-me da janela mas para além da escuridão não consigo ver muito do que se passa lá fora. Subitamente uma memória desconexa oferece-me algum esclarecimento quando me recordo de alguém a dizer o seguinte: “Visão turva poderá ser um dos efeitos secundários de um longo período em animação suspensa. Lembrem-se disto e mantenham a calma porque dentro de minutos o corpo vai adaptar-se“.

Solto mais um suspiro de alívio, sinto que dentro de pouco tempo tudo fará sentido e conseguirei descobrir onde estou…

À medida que os meus olhos se vão adaptando ao meio que me rodeia, o que mais me “salta à vista” é o metal que está por todo o lado. Olho à minha volta e começo a ver com maior nitidez, estou de costas para a janela e engulo a seco antes de me virar, estou com um mau pressentimento e qualquer coisa me diz que não era suposto estar acordado…

Sou encandeado por uma luz intensa mas suportável para quem faz uso dos olhos todos os dias, já para quem os manteve fechados provavelmente durante décadas, a mais pequena luz é o suficiente para os ofuscar. Passados alguns segundos sei exactamente onde estou e um sentimento de terror apodera-se de mim enquanto um só pensamento ecoa na minha mente:

Hellion Screenshot 2

!!! ESTOU PERDIDO NO ESPAÇO !!!

Pequenos flashes de memória vão-me oferecendo algum contexto e apesar de fisicamente sentir que estou a recuperar as forças, uma enorme ansiedade paralisa-me durante alguns segundos. Mesmo assim não tiro os olhos da janela, através dela vejo o que parecem ser módulos de uma estação espacial a flutuarem e verifico que a luz intensa que me ofuscou tem origem num sol que ilumina um gigantesco e imponente gasoso purpura (planeta gasoso).

Mesmo estando na fronteira do pânico consigo reconhecer a estonteante beleza da paisagem espacial diante de mim. Há qualquer coisa indescritível quando estamos frente-a-frente com o “grande infinito”, é uma sensação de pequenez perante a inimaginável dimensão do Universo.

Eu tenho de sobreviver

A minha história começa na Terra e com a primeira missão de colonização interstelar da história da humanidade. Foi um culminar de um colossal projecto que durou 64 anos para completar e consumiu uma quantidade de recursos e mão de obra sem precedentes.

No centro do projecto encontra-se a “Daedalus”, uma nave hercúlea com mais de 12 quilómetros de comprimento. No seu interior quase um milhão de colonos embarcam numa viagem de 78 anos rumo a Hellion, um sistema solar a milhares de anos luz da Terra. Para além de levar colonos a “Daedalus” transporta consigo todo o equipamento necessário para o estabelecimento de uma estrutura orbital nesse novo sistema solar.

No dia 11 de Abril de 2292 a “Daedalus” inicia a sua jornada rumo a Hellion e os colonos são colocados em animação suspensa para suportarem a viagem e não envelhecerem nem morrerem pelo caminho.

Eu sou um desses colonos…

Se eu estou a respirar e o sistema de emergência da minha cápsula despertou-me da animação suspensa, então significa que há energia e pelo menos o suporte básico de vida está a funcionar. Há uma porta à minha frente e quando me aproximo ela abre-se automaticamente. Estou agora na segunda divisão da minha pequena residência na “Daedalus” que é composta pelo quarto de onde saí e uma espécie de pequena sala onde me encontro agora.

Julgando pelos módulos que vi no exterior, a “Deadalus” sofreu algum tipo de acidente grave. Do que me recordo julgo que a gigantesca nave foi preparada para qualquer eventualidade e a separação pode ter sido causada pela activação de um protocolo de segurança para salvar o maior número possível de colonos. Por exemplo: na iminência de uma colisão catastrófica os módulos seriam injectados e os colonos no interior seriam também automaticamente despertados da animação suspensa.

Para já apenas posso especular, no entanto o que me parece mais do que provável é que uma separação desta escala deve ter originado uma perda de vidas significativa. Mesmo assim se mais módulos se comportaram como o meu é provável que lá fora existam outros sobreviventes.

Está hora de agir e de sair deste quarto…

Olho para a minha esquerda e vejo um fato pressurizado Mk9, todas as divisões dos colonos foram equipados com um. O Mk9 é o chamado fato espacial “standard” e um dos requisitos para fazer esta viagem foi um curso intensivo na sua utilização. Ele é relativamente pequeno e leve, não possui muito espaço para combustível e oxigénio no seu “jetpack“, mas por outro lado oferece uma enorme mobilidade e é simples o suficiente para que até o colono mais inexperiente seja capaz de utilizá-lo sem grandes problemas.

Decido colocar o meu fato e abro o visor do capacete porque o consumo de oxigénio dispara automaticamente quando ele está fechado e a última coisa que quero fazer é desperdiçar oxigénio no espaço.

Vejo à minha frente uma porta, abro-a e atravesso um pequeno corredor até encontrar uma das portas de segurança da “Deadalus”, são estas portas que fazem a separação entre módulos. A boa notícia é que se estou a ver uma porta intacta, é porque do outro lado encontra-se muito provavelmente outro módulo. Não vejo também qualquer tipo de indicador de despressurização na porta, o que significa que é seguro abri-la e seguir caminho.

Abro a porta de segurança mas assim que entro em mais um corredor os meus pés levantam-se do chão. Pelos vistos o controlo de gravidade está desactivado a partir deste ponto. Continuo uns metros em frente até mais uma porta, esta abre-se automaticamente e revela o botão vermelho do controlo de gravidade. Faço uma pequena impulsão e chego lá em dois tempos, activo a gravidade e depois de uma queda mínima estou de pé e reconheço o local onde estou.

Hellion Screenshot 3

O “outpost” é uma zona intermédia que faz a ligação entre módulos. Ele inclui uma fonte de energia independente; o seu próprio suporte de vida; vários locais para armazenamento de materiais e carga; dois fatos Mk9 e duas cápsulas criogênicas…

Duas cápsulas criogênicas

Sou invadido por mais uma memória:

Vamos estar sempre juntos…NOX

A 11 de Abril de 2292 eu não me juntei a todos os outros colonos sozinho. Eu faço parte de uma equipa composta por mim, pela minha namorada NOX e os colegas D3vilD0gPT e Commissar. O plano inicial foi eu e a NOX termos as nossas cápsulas criogênicas juntas no mesmo quarto, porém o espaço limitado dos módulos residenciais levou-nos a uma separação forçada. De qualquer forma não estaríamos muito longe um do outro, enquanto eu fiquei no quarto que me foi atribuído e do qual faríamos a nossa casa temporária quando acordássemos, a NOX ficou numa das cápsulas do “outpost” anexado a esse mesmo quarto e onde me encontro neste momento.

Ela está ali, mesmo à minha frente ainda em animação suspensa. Aparentemente o sistema de emergência não disparou na cápsula da NOX e ela dorme tranquila. Verifico os indicadores e tudo parece estar a funcionar sem problemas, mas antes de pensar em acordar a NOX necessito de verificar se temos energia e um suporte de vida aceitável para uma longa jornada no espaço.

Dirijo-me à consola e desta vez dou um enorme suspiro de alívio. Neste momento a pequena estação espacial está a funcionar com a energia de reserva utilizada em casos de emergência, mas o reactor e os painéis solares estão intactos e preparados para serem ligados. Apresso-me a ligar a energia e do outro lado acedo à consola do suporte de vida para ter a certeza que não existem problemas imediatos que coloquem em causa a minha segurança e a da NOX.

A NOX acorda

Depois de acordar a NOX explico-lhe o que se passou. Ela ouve-me provavelmente aterrada e no final responde-me com um abraço forte e diz o mesmo que me disse momentos antes de ela própria ter entrado em animação suspensa quando ainda estávamos na Terra:

Vamos estar sempre juntos…NOX

Os dois concordamos que é importante tomar diligências no sentido de tentarmos encontrar outros sobreviventes, nomeadamente o D3vilD0gPT e o Commissar que fazem parte do nosso grupo. Nós sabíamos que os módulos estavam interligados e que a cada grupo tinha sido atribuída uma secção. Eu, a NOX, o D3vilD0gPT e o Commissar estávamos todos na mesma secção e se a sorte estiver do nosso lado a separação não ocorreu muito longe do local onde nos encontramos.

Dirijo-me ao painel de controlo onde está o botão para activar o “sinal de socorro”, depois ambos começamos a fazer comunicações. Passam alguns minutos e nada, nós olhamos um para o outro apreensivos e conscientes que há medida que os minutos vão passando menor será a probabilidade de encontrarmos os nossos colegas.

Subitamente o silêncio é interrompido por:

É claro que estou vivo, eu não sou um n00b como o SteelD3vilD0gPT

Era o D3vilD0gPT a dar sinal de vida e a libertar um pouco a tensão extrema dos últimos minutos. A boa notícia é que o D3vilD0gPT não está longe e traz consigo uma das muitas naves albergadas pela “Daedalus”, a AC-ARG também conhecida por Argo. Ao que parece as milhares de naves que a Daedalus trazia consigo ficaram espalhadas pelo espaço na separação dos módulos, se grande parte delas estiver em tão boas condições como alguns módulos então ainda há esperança.

Hellion Screenshot 4

Em pouco tempo o D3vilD0gPT está junto de nós e neste momento temos o que podemos chamar de uma pequena base de operações funcional. Do Commissar ainda não tivemos qualquer resposta no entanto não podemos esperar mais e com o “sinal de socorro” ligado se ele estiver por aí algures, ele conseguirá encontrar-nos.

Juntos vamos à janela do meu quarto na base para avaliar um dos módulos que se encontra mais perto a flutuar. Vemos várias luzes acesas o que é um indicador de que temos um módulo funcional. O próximo passo é a identificação do tipo de módulo e fazer o seu respectivo acoplamento na nossa base de operações. Vestimos os nossos equipamentos e vamos para a saída da base.

Baixamos os visores dos nossos capacetes, o oxigénio é automaticamente accionado e a cada inspiração aumenta também o receio de “mergulhar” espaço adentro atrás de um módulo. Confirmo com a NOX e o D3vil se estão preparados e abro a porta.

Isto não vai ser fácil…

Numa questão de segundos somos sugados para o exterior em alta velocidade. Eu luto para obter estabilidade enquanto ao mesmo tempo vou-me afastando rapidamente da base de operações. Começo a pensar que se há pouco já pensava que estava perdido no espaço, agora não só corro o risco de ficar perdido como garantidamente não conseguirei sobreviver muito tempo nestas condições. Felizmente aos poucos vou estabilizando, o mesmo acontece com a NOX e o D3vil. Aos poucos todos conseguimos estar mais ou menos estáveis, restando agora localizar o módulo e seguir na sua direcção.

O radar diz-me que tenho três objectos ao meu alcance, um a 500 metros, outro a 610 metros e finalmente um a 900 metros. Todos presumimos que o mais próximo é o tal módulo que estivemos a observar do interior da base. Começamos a voar, ou melhor, a flutuar na sua direcção.

No espaço nós flutuamos mais do que voamos, é uma progressão que por vezes pode parecer lenta mas que na realidade não é, por isso mesmo é preciso ter cuidado com a velocidade. O “jetpack” é uma ajuda preciosa e o truque está em utilizar pequenas rajadas de ar para irmos na direcção pretendemos. Felizmente o sistema de estabilidade do Mk9 é muito bom, pelo que não temos grande dificuldade para chegarmos ao módulo.

Todos os módulos possuem pequenos motores de propulsão, eles existem na eventualidade de ser necessário separar módulos em pleno espaço e voltar a recolocá-los noutras posições ou até descartar aqueles que estejam danificados. É precisamente isso que vamos fazer, ou seja, vamos conduzir este módulo em direcção da base, alinhá-lo com a entrada e cuidadosamente realizar o seu acoplamento.Hellion Screenshot 5

Dirijo-me ao painel de acoplamento que se situa no exterior do módulo, retiro a consola e preparo-me para a manobra perigosa.

O acoplamento em pleno espaço não é fácil, primeiro ele é na maior parte das vezes feito do exterior, o que significa que não podemos demorar uma eternidade a fazer a manobra sob pena de ficarmos sem oxigénio, combustível ou energia no fato. Depois os módulos são grandes e o mínimo descuido no acoplamento pode danificar a base de operações. É preciso alguma paciência, cuidado e muita precisão.

A 500 metros de distância esta não é de todo a manobra de acoplamento mais difícil. Tivemos alguma sorte, basta alinhar devidamente o módulo e depois seguir em frente para fazer um acoplamento tranquilo. Vou controlando o módulo e percebendo que movimentos suaves são melhores do que os bruscos até que o alinho e começo a aproximação. O sistema de acoplamento é automático, basta aproximar o suficiente o módulo que depois o sistema trata do resto.

Este é um módulo “airlock” que essencialmente possui uma câmara de descompressão que nos permite entrar e sair da base de operações com maior segurança. O processo é simples: quando queremos sair da base, entramos primeiro numa divisão e fechamos a porta atrás de nós, de seguida realizamos uma descompressão e quando abrimos a porta de saída da base já não somos sugados para o espaço. Para entrarmos na base o processo é invertido, entramos na divisão, depois fazemos uma pressurização na qual a pressão da divisão onde estamos fica igual à pressão no interior da base e finalmente entramos sem problemas.

Por esta altura já estou muito próximo do ponto de acoplamento, mais uns centímetros e… já está! Celebramos em uníssono:

Boa! Conseguimos! Yeahhhhh!Steel, NOX e D3vilD0gPT

No espaço as pequenas conquistas dão um alento especial e oferecem aquele acréscimo de motivação necessário para continuarmos a progredir. De seguida vamos testar o “airlock” para voltarmos mais uma vez a entrar na base. Tudo corre conforme o esperado e embora este novo módulo seja relativamente pequeno, encontramos no seu interior algumas latas vazias e pelo menos uma já carregada com oxigénio. As pequenas latas são fáceis de transportar e podemos utilizá-las para carregarmos os nossos fatos com oxigénio ou combustível em pleno voo espacial.

No interior da base estamos visivelmente satisfeitos mas conscientes de que ainda temos muito trabalho pela frente. A luta pela nossa sobrevivência está agora apenas a começar, algo me diz que as próximas horas vão ser ainda mais difíceis mas pelo menos sabemos que juntos temos mais chances.

Hellion Screenshot 6

O próximo passo é embarcar na nave e partir à procura de recursos e outros módulos para a nossa estação. Infelizmente o Commissar é o único piloto do grupo e dava-nos jeito a sua habilidade em viagens potencialmente perigosas. Todos acreditamos que ele está algures lá fora e agora é só esperar que ele veja o nosso sinal de socorro.

Decidimos descansar e esperar algumas horas…

A NOX é a única que consegue dormir enquanto eu e o D3vil vamos discutindo sobre qual de nós vai conduzir a nave na eventualidade de o Commissar não der sinais de vida. A AC-ARG também conhecida por Argo é uma nave espacial superlumínica (que é capaz de viajar mais rápido do que a velocidade da luz) e o veículo ideal para a exploração espacial. Ela possui muito espaço na zona de carga bem como equipamento de perfuração avançado que nos vai permitir minar asteróides.

Subitamente e enquanto estamos a conversar ouvimos uma comunicação distorcida. A NOX acorda em sobressalto e seguem-se minutos de um silêncio inquietante…

Continua…

Última atualização: Setembro 13, 2017 às 18:24

Ary Costa

Ele foi a força fundadora por detrás da Gaming Portugal e conseguiu reunir uma equipa competente e unida. É um elemento que trabalha nos bastidores mas também publica artigos no website.

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