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Insurmountable: Opinião

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Insurmountable é uma viagem pelo mundo fascinante da escalada. O jogo transporta-nos para ambientes inóspitos num mundo gerado aleatoriamente e com morte permanente. Ele confronta-nos com decisões difíceis e que têm um impacto profundo na nossa jornada mas será que tem condições para causar esse mesmo impacto na indústria?

Desde já é importante informar que Insurmountable não é um jogo de ação non-stop, longe disso é um jogo de ritmo lento com uma movimentação de apontar e clicar numa experiência que mistura estratégia, sobrevivência, aventura e elementos roguelike.

Embora o jogo conte com inúmeros momentos de tensão extrema e de grande desafio, o grosso da experiência consiste em realizar a melhor subida de montanha possível e gerir bem os recursos que temos à nossa disposição.

O aventureiro, o cientista e o jornalista

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No jogo nós controlamos uma de três personagens durante uma escalada. O aventureiro vive para as grandes aventuras, o seu corpo está preparado para todos os desafios no entanto ele não é prudente e analítico. O cientista gosta de planear todos os seus passos, consegue observar a uma maior distância mas por vezes revela fragilidades físicas preocupantes durante a escalada. Finalmente o jornalista possui uma enorme tenacidade e a sua força mental ajuda-o a ultrapassar as piores condições sem nunca perder a racionalidade, porém ele não é tão experiente e precavido.

Cada uma destas três personagens possui as vantagens e desvantagens bem como cada uma delas carrega consigo itens diferentes. Cabe-nos a nós decidirmos qual a que se adapta melhor ao nosso estilo de jogo. No nosso caso pessoal é impensável realizarmos uma escalada sem levarmos uma tenda para podermos descansar em situações mais críticas e por isso a nossa escolha favoreceu sempre o aventureiro e o cientista.

A jogabilidade processa-se como um jogo de estratégia onde clicamos para onde queremos que a personagem se movimente. A personagem por sua vez movimenta-se em blocos hexagonais, no entanto ela nunca fica limitada de movimentos, pelo contrário nós temos liberdade para a movimentarmos para onde quisermos.

É uma experiência muito simples do ponto de vista de jogabilidade, falta-lhe a complexidade característica do género e com toda a certeza os jogadores veteranos não vão apreciar essa falha. No entanto Insurmountable não é um daqueles jogos onde se pode esperar perder muitas horas porque simplesmente não há conteúdo para isso. Aliás a história é praticamente inexistente salvo alguns textos e reflexões que as personagens realizam ao longo da subida.

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O objectivo é, claro está, escalar a montanha com sucesso. Para conseguirmos atingi-lo é importante descobrir o melhor caminho até ao topo e tirar partido de abrigos como cavernas, ou eventos especiais que por vezes resultam na obtenção de mantimentos e outras vantagens.

Embora a progressão seja algo lenta e não exista forma de avançar o tempo rapidamente a não ser quando estamos a descansar, essa lentidão é importante para a experiência. Diz-se que a “pressa é inimiga da perfeição” e Insurmountable leva esta máxima a sério.

Estamos perante mais um jogo que exige o pensamento estratégico. É preciso ter em consideração o nível de cansaço da personagem; o nível de oxigénio; a temperatura do corpo ou a sua sanidade. Tudo isto afecta a qualidade da escalada e pode determinar o seu sucesso ou fracasso.

O planeamento deve ser feito em tempo real, não existem muitas paragens e daí o ritmo mais lento da jogabilidade que permite que nós tenhamos tempo para pensarmos e mudarmos de estratégia sempre que for necessário.

O ambiente tenso da subida e a imprevisibilidade

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Na vida real subir uma montanha é uma tarefa que não está ao alcance de todos. A escalada é uma actividade que requer não só aptidão física como psicológica porque ao longo do caminho podemos encontrar um pouco de tudo.

Insurmountable consegue traduzir para a experiência de jogo essa tensão e imprevisibilidade características da escalada. O clima pode mudar de um momento para o outro, uma área que ao longe parecia acessível pode revelar-se um pesadelo e alguns eventos podem ter resultados desastrosos e colocar em causa o sucesso da missão.

Por exemplo, um dos acontecimentos muito comuns na subida de montanhas na vida real, é o encontro de objectos deixados por outros exploradores ou até dos corpos daqueles que não aguentaram a subida. No monte Everest estão centenas de corpos ao longo de toda a subida, uma dura realidade que revela como esta é uma actividade perigosa.

Esse ambiente de incerteza está presente no jogo, ajuda a criar a tensão e quando começamos a encontrar sérias dificuldades pelo caminho, cada pequena decisão tem uma enorme influência no resultado final. Escolhe um caminho mais difícil e arriscas-te a que a tua personagem fique demasiado cansada e sofra inúmeros danos durante a progressão. Escolhe um caminho mais seguro e poderás demorar o dobro do tempo a chegares ao teu destino com o risco de pereceres a meio do caminho.

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É aqui que o pensamento estratégico ajuda, planear uma rota de subida tendo em conta os eventos que existem no terreno é fundamental para a sobrevivência. O objectivo é sempre o de encontrar pelo caminho algo que nos auxilie a subida. Um pouco de comida; mais vestuário; botijas de oxigénio ou tendas são apenas alguns dos itens importantes que podemos encontrar.

Uma nota especial para as botijas que são fundamentais em grandes alturas para combaterem a mais do que certa falta de oxigénio.

Depois de uma subida tensa e com muito sacrifício pessoal existe ainda a descida que se torna mais perigosa devido à exaustão da subida. Quando jogámos a primeira montanha (cada um no seu jogo visto tratar-se de uma experiência de um jogador apenas) chegámos ao topo com relativa facilidade, no entanto ambos cometemos o erro de esgotarmos os nossos recursos, o que tornou a descida um desafio considerável.

É a partir deste momento que o jogo brilha com mais intensidade. É uma autêntica luta pela sobrevivência que acaba por ser acentuada pela lentidão porque nós sabemos que, ou encontramos o evento certo pela frente e temos um pouco de sorte para recuperarmos, ou eventualmente a progressão será impossível e a derrota inevitável.

A morte é permanente e no início vai acontecer muitas vezes. A primeira montanha é uma boa introdução ao que o jogo tem para oferecer e daí para a frente tudo fica mais difícil mas sem nunca deixar de se recompensador.

Visualmente sólido mas sem surpresas

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Insurmountable cumpre no departamento gráfico embora esteja longe de conseguir rivalizar com os jogos de grande orçamento no mercado. Apesar disso ele é sólido, as personagens estão bem desenhadas e as suas animações estão muito boas. O trabalho artístico, sem grandes deslumbramentos, é também ele consistente.

Podemos aproximar a câmera e acompanhar de perto a progressão da nossa personagem sem ficarmos demasiado desiludidos com o resultado e existem alguns momentos, principalmente em grandes alturas, onde o cenário revela uma beleza singular.

Não é, digamos, um trabalho super detalhado no departamento gráfico, mas atendendo à natureza do jogo isso não é o aspecto mais importante. Gostaríamos no entanto de ver o que esta equipa de desenvolvimento seria capaz de fazer com um grande orçamento.

No som falta variedade à banda sonora

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Já referimos que o ambiente neste jogo está muito bem conseguido e o som faz uma contribuição importante. Desde o início da experiência que somos acompanhados por uma música que, sem se intrometer, vai revelando a escala do desafio que temos pela frente.

Os efeitos sonoros ajudam a transmitir o esforço realizado pela nossa personagem e em cada movimentação podemos quase sentir o peso que a nossa personagem carrega consigo. A respiração ofegante, os passos mais difíceis à medida que a energia ou o oxigénio vão desaparecendo reflectem-se no som e acentuam a aventura.

No geral o som levou no entanto uma abordagem minimalista, o que não deixa de ser estranho porque se há departamento que pode ser mais exuberante num jogo independente, é o departamento do som.

Uma experiência interessante

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Insurmountable é uma experiência de “nicho” e só será apreciada por quem realmente gosta deste género de jogos. Mas este pequeno título é também uma aventura especial que faz uso da simplicidade para proporcionar uma experiência que consegue ser muito envolvente.

Jogos de ação “non-stop” às vezes têm dificuldades para traduzirem para o ecrã o risco e o perigo real das suas acções, mas Insurmountable fá-lo com uma enorme naturalidade e isso, no meio de todos os seus defeitos, é uma excelente notícia.

Com montanhas geradas aleatoriamente e um clima dinâmico, nenhuma escalada vai ser igual e os eventos garantem que os caminhos para a vitória são sempre diferentes de jogador para jogador. É claro que nós gostaríamos de ter visto mais variedade nos eventos e talvez mais desenvolvimento na história, mas para um jogo independente com um orçamento limitado nós compreendemos que é sempre necessário sacrificar alguma coisa.

De qualquer maneira o foco no pensamento estratégico funciona e faz a diferença, embora só seja óbvio usando um termo de comparação. Como fomos dois a analisar este jogo, conseguimos concluir que uma boa análise do terreno faz de facto a diferença e a escolha do melhor caminho para o topo não é sempre a mais óbvia. Também percebemos que com mais paragens em eventos, é possível garantir subidas e descidas mais sustentadas e seguras.

No entanto só conseguimos avaliar o peso das decisões depois de ultrapassarmos o “ponto de não retorno” da viagem. Por vezes lamentámos não termos vasculhado com atenção um determinado local de interesse que poderia ter mantimentos importantes para obtermos energia ou o valioso oxigénio extra. E confessamos que nos momentos de maior frustração sentimos que a sorte simplesmente não estava do nosso lado.

Insurmountable tem destas coisas, ele dá-nos tempo para tomarmos decisões e para pensarmos sobre os próximos passos e só mais tarde é que nos confronta com o impacto das decisões que tomámos. No nosso caso o resultado foi, demasiadas vezes, uma luta feroz pela sobrevivência com as vitórias mais memoráveis a serem conquistadas na iminência da derrota.

Insurmountable está longe de ser um jogo perfeito mas é uma experiência que por vezes consegue ter momentos muito bons para quem aprecia o género. Talvez as suas lacunas impeçam-no de subir tão alto como as montanhas que representa mas passámos com ele momentos divertidos e para nós isso é o mais importante.

Última atualização: Fevereiro 3, 2022 às 18:27

Uma abordagem interessante

Insurmountable não é definitivamente um jogo para todos mas consegue ser uma experiência envolvente e por vezes muito intensa. Longe da perfeição, o seu ritmo lento, alguma repetibilidade e a pouca história podem aborrecer alguns jogadores mas no geral é uma experiência sem grandes problemas e com alguns momentos fantásticos.

7.4
Recomendado (apenas para os fãs do género):
7.4
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Marcio Olival

O Márcio é uma das forças editoriais da Gaming Portugal, ele também faz um pouco de tudo mas a sua preferência reside nos artigos de opinião. Regra geral ele não é comedido nas palavras, porém em vez de optar pela dureza extrema ele prefere quase sempre pelo sentido de humor.

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Helder Sousa

Adepto do ar livre e dos desportos radicais, nós nunca sabemos se no próximo fim-de-semana ele não irá longe demais, levando a equipa a ficar com um elemento a menos. Quer dizer, o exercício é uma coisa boa, mas quando isso envolve quedas de grandes alturas ou escaladas perigosas, talvez seja melhor ficar em casa a jogar videojogos.

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