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Spiritfarer: Opinião

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Spiritfarer é um jogo de gestão sobre a morte. Nele nós controlamos Stella e na pele da mais recente “barqueira dos espíritos” a nossa missão é ajudar os falecidos na transição para a vida depois da morte.

Este jogo vem das mentes criativas da Thunder Lotus Games, um estúdio que durante os últimos anos tem realizado um trabalho absolutamente fantástico. O sucesso de títulos como Jotun e Sundered ajudaram a estabelecer este estúdio como um “peso pesado” no mercado independente de videojogos e Spiritfarer é a sua aventura mais recente.

É difícil imaginar um videojogo que aborde a temática da morte e seja simultaneamente uma aventura divertida, tranquila e com uma beleza artística considerável. Pois bem, Spiritfarer é isso mesmo e muito mais, é uma obra de arte que nos faz pensar sobre a nossa própria existência e “ensina-nos” que a bondade e entreajuda são dois dos pilares da humanidade.

A História

Como já se percebeu, a história de Spiritfarer é interessante na medida em que a temática da morte e da perda é abordada de uma forma delicada. Ela tenta mostrar-nos a fatalidade numa luz positiva e vai buscar inspiração ao mito grego de “Caronte”, a célebre história do barqueiro de Hades (Deus do reino dos mortos na mitologia grega) que carrega as almas dos recém-mortos.

No jogo nós vestimos a pele da Stella e do seu gato companheiro Daffodil (em modo de cooperação local o segundo jogador controla o gato). Ela é a “barqueira dos espíritos” e tal como no mito, ela transporta e toma conta das almas até finalmente as libertar para a vida depois da morte.

A leveza da abordagem “abre as portas” a jogadores de todas as idades. Não há violência neste jogo, o que há é uma aprendizagem do conceito de perda, da importância de uma boa despedida e do valor da amizade.

A suportar esta história estão personagens cheias de personalidade e um cenário mágico e memorável. Os diálogos são sólidos e na versão do PC está disponível a língua portuguesa (português brasileiro) sendo que nas versões PS4, Xbox One e Nintendo Switch em breve ela também será uma opção (pode ser que até já seja na data de publicação desta opinião).

O grafismo

A Thunder Lotus Games já nos habituou a trabalhos de grande qualidade no departamento gráfico e Spiritfarer não é excepção. À semelhança de outros jogos desta companhia, também este se assemelha a uma espécie de desenho animado em movimento.

Os cenários são detalhados, vibrantes com muita cor e as animações são de grande qualidade. Artisticamente o registo é semelhante ao que vimos em Jotun e Sundered e não há dúvidas de que a Thunder Lotus Games tem artistas muito talentosos e o facto de o jogo ser todo desenhado à mão só ajuda a realçar a sua qualidade.

Este jogo é uma prova de que o 2D continua mais relevante do que nunca e que bons artistas quase fazem de um videojogo uma tela no qual desenvolvem a sua arte. Spiritfarer é tanto um videojogo como também é uma obra de arte e jogá-lo é também apreciar este trabalho.

A jogabilidade

Spiritfarer joga-se como um jogo de plataformas 2D que por sua vez tem elementos de jogos de gestão de recursos, “crafting” e alguma construção pelo meio. Não é nada complexo sendo que o grosso da experiência são as plataformas.

Ele também não é um jogo de ritmo elevado, pelo contrário é mais uma experiência que dá tempo aos jogadores para pensarem e planearem o que vão fazer a seguir. A nossa missão principal é a de gerir e conduzir um barco que vai acomodar as mais diversas almas que estão em fase de transição para a vida depois da morte.

A nossa aventura começa com um barco modesto e um tutorial explica-nos como podemos introduzir uma nova rota e dar início à jornada. Enquanto o barco ruma ao seu destino nós podemos realizar todo o tipo de actividades: desde pescar; alimentar os nossos hóspedes; construir estruturas; “craftar” materiais; cozinhar e no fundo garantir que o ambiente é o mais favorável possível para todos.

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Pelo meio vamos recebendo missões dos hóspedes que nos ajudam a progredir na história e a melhorar o barco. Aos poucos e quando os hóspedes atingem o nível máximo de satisfação é altura de os transportar para um portal que finalmente os leva para a vida depois da morte.

Há muito para explorar no mapa: várias ilhas; locais de eventos especiais; lojas; um meio de transporte mais rápido e muito mais. Em todos estes locais vamos não só completando quests como também reunindo recursos para irmos melhorando e aumentando o espaço no barco. Não demora muito tempo até que o barco cresça em dimensão e seja capaz de servir de abrigo para várias almas.

A jogabilidade, mesmo incluindo os elementos de gestão de recursos e construção, é bastante simples e conseguir ajudar alguém a fazer a transição para a vida depois da morte é altamente recompensador.

A história

Com personagens cheias de personalidade, muitos diálogos e ilhas para explorar a história de Spiritfarer é surpreendentemente robusta. Aliás parte da experiência é mesmo desfrutar da história com atenção, perceber as motivações das personagens e estabelecer uma ligação forte com as mesmas.

É uma história tocante e tão bem contada que sentimos sempre uma tristeza genuína quando nos despedimos de uma alma bem resolvida. Afinal de contas a história deste jogo é também uma história de perda e faz sentido que ela seja particularmente emotiva apesar de todo o positivismo que rodeia a experiência.

A banda sonora

Simples e bela, a banda sonora complementa na perfeição toda a experiência e ajuda a que a história seja ainda mais envolvente. Nos momentos de despedida ela é intensa e comovente, nos momentos mais divertidos ela alegra-nos o espírito.

A música transmite também a tranquilidade da experiência e nunca se impõe só revelando todo o seu impacto quando realmente é necessária.

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Uma belíssima aventura

Spiritfarer é uma aventura inteligente, divertida e de enorme sensibilidade artística. É também uma experiência simples e altamente recompensadora e uma história invulgarmente positiva sobre uma temática tão carregada de tristeza.

Ele também foi capaz de nos surpreender com a sua longevidade que ronda as 30 horas, algo pouco habitual em jogos independentes desta natureza que muitas vezes nem chegam à dezena.

Última atualização: Agosto 31, 2020 às 14:31

Uma aventura mágica!

Spiritfarer é um daqueles jogos raros que é simultaneamente uma obra de arte e também uma experiência completa e muito divertida. Simples, divertido e comovente ele é definitivamente um dos melhores jogos independentes que nós tivemos a oportunidade de jogar este ano. 

9
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Helio Costa

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Ary Costa

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