A Quiet Place: The Road Ahead é um jogo que se propõe a transportar para o mundo dos videojogos a tensão única de um “franchise” cinematográfico. Será que consegue?
Quem viu um dos filmes sabe que nesta realidade o silêncio é uma regra absoluta e neste videojogo isso é transformado em mecânica de jogabilidade.
Nesta aventura para um jogador, compete-nos sobreviver num ambiente inóspito no qual o ruído que fazemos deve ser mantido no mínimo dos mínimos.
É um tipo diferente de terror, porque a ideia passa não só por temermos as criaturas que vagueiam pelo planeta, como os ruídos acidentais que podemos fazer e que nos podem colocar em apuros.
No papel a ideia é genial e no cinema sabemos que funcionou na perfeição. Resta saber se no videojogo isso também resulta. Continua a ler para saberes a resposta.
A história
A Quiet Place: The Road Ahead conta-nos, lá está, mais uma história de sobrevivência que nos é contada através dos olhos da protagonista, Alex Taylor, uma jovem inteligente e engenhosa que sobrevive no meio do caos.
Ela é acompanhada pelo seu namorado Martin, sendo que ambos tentam dar sentido à sua vida mesmo perante um autêntico Apocalipse.
A história está, como seria de esperar, bem construída, o “voice acting” também é muito bom, e isso ajuda a contribuir um pouco mais para a imersão.
A história também ajuda a oferecer alguma tensão à experiência. Por exemplo, a Alex sofre de asma e um ataque ruidoso de tosse pode acontecer na pior altura. Por isso mesmo temos de gerir a doença, encontrar medicação e controlar os sintomas.
Como se isso não fosse mau o suficiente, o jogo inspira-se no que aconteceu no filme, e a Alex descobre a dada altura que também está grávida. E como o filme já nos ensinou, gravidez e silêncio não combinam muito bem.
A história é inegavelmente interessante ou não fosse ela inspirada nos filmes, no entanto se no começo ela é bastante prometedora, à medida que vamos avançando ela vai perdendo preponderância.
Se porventura tu viste os filmes, então ela vai acabar por se tornar bastante previsível também. Apesar disso ela nunca perde a sua consistência e pode não ser tão entusiasmante como as dos filmes, mas não deixa de ser uma história decente.
O grafismo e a arte
A Quiet Place: The Road Ahead é um jogo com uma identidade visual que já foi estabelecida no cinema e como tal, o que devemos avaliar aqui é se essa mesma identidade foi bem traduzida para o videojogo.
Por um lado a resposta é positiva, o jogo captura a essência visual das experiências cinematográficas. A diferença é que, com 105 dias depois da chegada dos aliens, ainda é tudo muito fresco e a decadência da sociedade moderna só agora começa a instalar-se.
Tal como nos filmes, encontramos pela frente um mundo mergulhado no silêncio forçado que transmite a sensação de ter sido abandonado à pressa. Os cenários refletem isso na perfeição e eles próprios ajudam a contar a história do que se passou, mesmo para quem nunca viu os filmes.
É sobretudo um trabalho artístico de qualidade com a identidade visual que tão bem conhecemos nos filmes. Muitos cenários com caminhos obstruídos, edifícios com enormes buracos nas paredes ou áreas deliberadamente fortificadas por outros que acabariam por não sobreviver.
Como a Alex anda a maior parte do jogo sozinha, é fácil perceber o nível de solidão que pode ser criado por este tipo de tragédia e só isso acrescenta à tensão constante de viver neste mundo.
Graficamente A Quiet Place: The Road Ahead tem os seus momentos especialmente nos cenários que envolvem a natureza. Infelizmente não são muitos porque a maior parte da aventura geralmente envolve escuridão e caminhos mais restritos.
De qualquer maneira os cenários; os modelos das personagens; os diversos objetos com que interagimos ao longo da aventura estão todos muito bem desenhados e ajudam a imersão.
A jogabilidade
A Quiet Place: The Road Ahead joga-se na perspetiva da primeira pessoa, uma escolha óbvio ou não fosse um dos grandes objetivos desta aventura o de aterrorizar o jogador.
E de facto funciona. Ao “vivermos” a história através dos olhos de Alex sentimo-nos envolvidos na experiência deste o primeiro minuto e sentimos na pele todos os pequenos e o grandes momentos de tensão que se multiplicam ao longo de toda a aventura.
Há no entanto uma particularidade, que talvez seja óbvia para quem viu os filmes, mas é relevante para quem nunca os viu. Não há muita ação direta neste jogo, que é como quem diz, não andamos pelo mundo com uma arma a aniquilar inimigos.
Nada disso, este jogo é todo ele sobre movimentação meticulosa e vagarosa. E sim, queremos com isto dizer que andar devagar para criar o menor ruído possível é uma realidade neste jogo.
Sem grandes corridas e com inimigos que nos detetam pelo som, é óbvio que há tensão praticamente em todos os momentos da aventura. E para além disso há a asma de Alex que é quase outro “inimigo” que pode atacar quando menos esperamos.
A jogabilidade é bastante simples: andar em silêncio, reunir recursos e não deixar que a asma ou a gravidez de Alex se intrometam na nossa missão. E mais para a frente, quem sabe, talvez encontrar um porto seguro.
Há alguns objetos e mecânicas de jogo que são também uma ajuda valiosa. Uma lanterna dá sempre jeito na escuridão; um aparelho para medir o ruído que fazemos é um “salva vidas” e utilizar os sacos de areia para progredir silenciosamente em território mais barulhento oferecem algum alívio.
E a progressão silenciosa ocupa a maior parte da experiência de jogabilidade mas para além da variedade na jogabilidade descrita em cima, ainda é possível utilizar um microfone como mecânica de jogabilidade.
Ou seja, o microfone capta o ruído que fazemos e se ele atingir níveis não recomendados, haverá sempre uma criatura à espreita. Escusado será dizer que, com esta mecânica ativa, os jogadores que se assustam com facilidade vão passar um mau bocado.
Verdade seja dita, embora a tensão criada no jogo nos tenha deixado algumas vezes com o “coração nas mãos”, esta não é uma experiência que podemos considerar realmente assustadora. Ambos já nos assustámos muito mais com outros jogos.
De resto a movimentação e progressão mais lentas podem não agradar alguns jogadores, mas neste caso elas são parte integrante da história.
Banda sonora e som
As músicas que existem enquadram-se bem na temática do jogo. Mas em A Quiet Place: The Road Ahead não é a banda sonora que tem o destaque, mas sim o som de tudo o que nos rodeia e principalmente do ruído que fazemos.
Estar atento ao nível de ruído é uma parte integrante da experiência de jogo e por isso os efeitos sonoros são excelentes. Eles ajudam não só a criar tensão como nos colocam hiper-atentos a tudo o que sejam ruídos.
A meio da experiência nós já ouvíamos a mais, até uma pequena variação na banda sonora nos colocava em alerta e isso é ainda mais intenso quando se joga sozinho e com um “headset”.
Neste jogo a qualidade dos efeitos sonoros é determinante para uma experiência de jogo imersiva e felizmente eles não desiludem.
Um jogo sólido
A Quiet Place: The Road Ahead é um daqueles jogos que revela solidez em todos os departamentos. A sua história embora pouco memorável, beneficia do facto de fazer parte de um Universo cinematográfico estabelecido.
O grafismo e a arte, embora não sejam muito exuberantes, conseguem traduzir na perfeição a atmosfera inóspita de um mundo assolado por aliens que detetam as suas presas pelo som.
A jogabilidade, que é vagarosa e pouco variada, nunca se torna aborrecida graças ao nível de tensão que somos submetidos sempre que estamos a jogar.
Ou seja ele é, em toda a linha, um jogo que cumpre bastante bem o seu papel. Talvez não tão aterrador quanto nós esperávamos que fosse, mas a realidade é que não existem muitos jogos capazes de criar este nível de tensão e de o manterem praticamente até ao final.
Última atualização: Novembro 4, 2024 às 15:57