The Thaumaturge chega amanhã às consolas depois de se ter estabelecido no PC. Mas será que este RPG vale a pena?
The Thaumaturge talvez não seja o RPG mais popular do mercado, mas o que é certo é que o seu lançamento no PC no início deste ano foi bem sucedido e as críticas dos jogadores têm sido muito positivas.
A experiência é suportada por uma história que decorre em Varsóvia do início do século XX, numa sociedade em que os demónios místicos são uma realidade.
Agora que o jogo está devidamente estabelecido no PC e prestes a chegar à PlayStation 5 e Xbox Series X|S, é a altura ideal de ir tentar perceber se realmente os elogios são merecidos.
Durante os últimos dias eu estive a jogar a versão do PC e se quiseres saber qual é a minha opinião e nota final, então continua a ler…
A história
The Thaumaturge conta-nos a história de Wiktor Szulski, um taumaturgo que é uma mistura entre um mestre das artes místicas e um detetive.
O jogo transporta-nos para o início do século XX numa Polónia ocupada pela Rússia, numa altura em que Wiktor decide regressar a Varsóvia depois de saber que o seu pai faleceu inesperadamente.
A história é um dos pontos mais fortes de toda esta experiência. Wiktor é uma personagem intrigante devido à sua ligação única ao sobrenatural.
A história é sombria mas muito interessante e às vezes surpreendentemente profunda. Embora o “voice acting” pudesse ser melhor, a qualidade dos diálogos é tão boa que ajuda a ofuscar esse problema.
O elemento sobrenatural brilha neste jogo e grande parte disso deve-se ao facto de Wiktor conseguir manipular as vontades das pessoas que vai encontrando pelo caminho.
É um poder de grande utilidade especialmente na resolução de mistérios. Junte-se a isso o facto de ele ter basicamente demónios que o auxiliam ao longo de toda a jornada, e tudo se conjuga para que o jogo seja uma experiência muito atmosférica.
Os diálogos possuem ainda escolhas morais que adicionam peso às nossas decisões e alguma imprevisibilidade à história.
The Thaumaturge ainda tem do seu lado o facto de ser uma história com rasgos de originalidade e que a tornam única na indústria.
O grafismo e a arte
The Thaumaturge é um caso interessante de excelente trabalho artístico mas que não é nenhum portento no departamento gráfico.
A reprodução de uma Polónia do início do século XX está muito bem conseguida, alguns cenários são belíssimos mas os modelos das personagens e a qualidade de animação está uns furos abaixo das grandes referências dentro do género.
Mas isso não é um problema gigantesco, até porque não estamos a falar de um jogo que é um colosso AAA que tem a ambição de competir pelo topo dentro do seu género.
Nada disso, eu acredito que a equipa de desenvolvimento tinha perfeita noção das limitações deste jogo em comparação com outros RPG no departamento visual.
Potência gráfica não é sempre sinónimo de qualidade visual. E sim, este jogo tem uma qualidade de animações relativamente baixa e os modelos das personagens não são impressionantes, mas artisticamente ele tem os seus momentos nos belíssimos cenários que representam a era em que decorre a ação.
Teria sido muito mais danoso se ele tivesse uma grande qualidade gráfica mas fosse carecido de “alma” artística. Ou se, por exemplo, fosse visualmente excelente em todas as áreas visuais mas a história deixasse muito a desejar.
A jogabilidade
The Thaumaturge joga-se numa perspetiva isométrica durante a parte de exploração e investigação e transforma-se num RPG de combates por turnos quando é tempo de ação.
O combate é sólido e o facto de termos do nosso lado demónios para ajudarem, torna-o divertido na maior parte das vezes. Existe também uma progressão natural na qual se pode melhorar habilidades e ficar mais poderoso.
Eu gostei das duas componentes da jogabilidade, a investigação é sempre interessante para quem, como eu, gosta de ser um detetive virtual e o combate felizmente não desilude.
Mas se é bom que o combate não desiluda, já não é assim tão bom quando ele não oferece nada de novo.
Sim, os demónios e as suas habilidades no campo de batalha dão alguma frescura aos combates, mas estrategicamente o jogo não tem muito para oferecer em comparação com a concorrência.
O nível de desafio também não é muito elevado, algo que se torna evidente passadas algumas horas, especialmente para quem não é novo no género.
Por outro lado, esta simplicidade, que pode ser excessiva para os puristas dos combates por turnos, torna o jogo mais acessível para novos jogadores que pretendam começar a explorar este género.
Reconheço também que o ciclo de jogabilidade poderá tornar-se aborrecido para quem não gosta muito de videojogos com investigação (encontrar pistas, ler muitos textos e participar em diálogos frequentes).
The Thaumaturge não é um daqueles RPG’s em que a história se desenrola rápido, pelo contrário o seu ritmo é mais para o vagaroso, como referi, existem sempre muitos diálogos e bastante conteúdo de leitura.
Na minha opinião, o desenrolar da história, a qualidade dos diálogos e a escolhas morais amenizam o potencial para aborrecimento.
No geral e apesar de alguns defeitos, este jogo é uma boa experiência de jogabilidade que obviamente é potenciada pela qualidade da história.
O Som
A banda sonora e os efeitos sonoros são bons e ajudam a tornar a experiência mais atmosférica. Já o mesmo não se pode dizer do “voice acting”.
Existem duas possibilidades, vozes em polaco ou vozes em inglês. Naturalmente as vozes em inglês são as que estão ativadas quando começamos a jogar e não posso dizer que fiquei impressionado com a sua qualidade.
Com exceção para algumas das vozes principais, os textos dos diálogos que até têm qualidade, não são bem interpretados pelos atores que lhes dão as vozes.
Eu experimentei mudar para polaco e devo dizer que me pareceu francamente melhor. Os tons e as entoações parecem mais realistas do que a versão inglesa.
Não é um problema grave, porque felizmente a história e os textos são bons, mas não deixa de ser um problema que afeta a experiência de jogo.
O “voice acting” é uma adição que pode fazer a diferença num RPG, mas acaba também por ser um processo dispendioso quando existe muito texto para ser lido.
A sensação que tenho é que muitas das vozes simplesmente não têm calibre para um jogo desta dimensão.
Últimas palavras
The Thaumaturge pode ter alguns defeitos mas não é de todo um mau jogo. Pelo contrário é um RPG competente que se destaca por uma história original e intrigante, diálogos de qualidade e uma jogabilidade de investigação bem conseguida.
O combate cumpre sem deslumbrar e ao final do dia a experiência é divertida. Consigo perceber o seu sucesso no PC e agora nas consolas não tenho dúvidas de que será uma boa escolha para quem anda à procura de uma nova aventura com toques de originalidade.
Última atualização: Dezembro 3, 2024 às 13:23