E se eu te disser que nos dias que correm continua a ser mais fácil “vender” a ideia de um videojogo com um protagonista principal do que com uma protagonista? Sim, parece mentira mas a realidade é que as companhias ainda “torcem o nariz” perante um jogo que possui uma mulher como o seu principal destaque. Mas será este apenas um problema de algumas companhias, ou o gamer moderno continua a ser demasiado machista para aceitar personagens femininas no seus videojogos preferidos?
Por um lado a resposta parece ser óbvia, se olharmos para a generalidade dos videojogos, são poucos aqueles que possuem mulheres como protagonistas. Digamos que não existem muitas “Laras Crofts” por aí e só por si isso já é um indicador de que talvez os gamers não sejam fãs da mulher como protagonista num videojogo. Mas será isto mesmo verdade, ou pelo contrário o problema até nem está nos gamers, mas sim nas próprias companhias?
Por exemplo, a Dontnod Entertainment que é responsável pelo Remember Me – que para quem não sabe conta com uma personagem do sexo feminino como protagonista – revelou recentemente que teve dificuldades para que a sua ideia fosse aceite devido a ter escolhido uma mulher como protagonista. É difícil perceber porquê, até porque na minha opinião e ao contrário do que algumas editoras querem fazer parecer, para o gamer o sexo do protagonista de um videojogo nunca foi sequer uma questão. Aliás se olharmos para a história, ela até nos prova que embora não existam muitas protagonistas ou chamadas “personagens fortes” do sexo feminino nos videojogos, as que existem foram muito bem recebidas pelos gamers.
O primeiro destaque natural vai para a Lara Croft, uma personagem cuja popularidade é capaz de rivalizar com qualquer outra do sexo masculino no mundo dos videojogos. E quem é que se consegue esquecer da letal Chun Li de Street Fighter que embora não tenha sido protagonista é inegavelmente uma das suas personagens mais populares do “franchise“.
É estranho quando um grande número de companhias, sejam elas criadoras de videojogos ou apenas editoras, ainda conseguem ser tão retrógradas e pior do que isso transmitem a ideia de que o gamer é de certa forma machista. Naturalmente existirão gamers que o são, mas na sua generalidade uma personagem feminina será tão bem recebida como uma masculina, partindo do principio que foi bem construída.
O que importa ao gamer moderno é sim a qualidade da experiência, o que nos interessa é que o jogo seja divertido e tenha qualidade. Não é por uma grande parte dos gamers ser homem que nós devemos ser chamados de machistas, pelo contrário se existe machismo ele reside nas antes nas grandes corporações e não em nós.
Beyond Good & Evil é outro exemplo de mais um jogo que foi extremamente bem sucedido e tem uma protagonista do sexo feminino, provavelmente poucos serão capazes de se esquecer da poderosa Sonya Blade do Mortal Kombat, que à semelhança de Chun Li não era uma protagonista mas destacou-se como uma das personagens mais populares.
Reconheço no entanto que na maior parte das vezes as personagens do sexo feminino nos videojogos representam o papel de vítima, contudo e tal como referi em cima, acredito que esse é mais um problema das companhias do que dos gamers.
O verdadeiro gamer não olha para o sexo das personagens ou para a sua raça e eu só espero que eventualmente a indústria perceba isso.
Última atualização: Março 22, 2013 às 11:41
Paulo Figueiredo
O Figueiras é um elemento fundamental da Gaming Portugal e a figura mais respeitada da equipa. A sua vida atarefada impede-o de acumular uma posição de maior destaque. A sua participação na Gaming Portugal é motivada principalmente pelo gosto por gaming e dá-lhe um prazer especial saber que nesta casa a “independência” é uma característica definidora.
1 Comentário
Sepol
22 de Março de 2013Eu acho que há uma relação, até certo ponto, recíproca entre jogador e developer. Nesse artigo o autor considera que o machismo vem mais dos developers do que dos jogadores, mas eu acho que vem tanto daí como dos proprios gamers. Os developers têm tendencia a fazer mais personagens masculinos porque raramente vêm os gamers a exigir mais personagens femininos. Dizer “a lara Croft foi bem recebida, logo isso indica que há pouco machismo entre gamers” não chega, na minha opinião, porque depois vejo pessoal a ser ‘atacado’ quando diz algo do género “ugh, estou farto/a de só ver homens nos videojogos”.
Portanto, personagens femininas são aceites esporadicamente, mas ái de quem sugerir que deviam haver mais ou melhor representadas! A impressão que passam é que há poucas personagens femininas, e é assim que deve ficar. Porque os videojogos são uma coisa de rapaz, porque não é suposto os developers cativarem um publico alvo feminino, porque raparigas só jogam farmville e sims de qualquer forma, porque raparigas que dizem que jogam só o fazem por atenção e nao merecem ser ouvidas, porque ‘shut up bitch, go make me a sandwich”. (tudo isto são reações relativamente comuns e que já me foram dirigidas). Isso ou dizer coisas do género “se a personagem for uma rapariga eu não me vou identificar com ela ” (engraçado não dizerem o mesmo quando o personagem é um alien ou um animal), ou “se a minha personagem feminina se envolver com um homem vou sentir a minha sexualidade insultada, eeew” (se a tua sexualidade é assim tão fragil, o ‘problema’ não serão os videojogos; além disso, isso não é problema para as raparigas, porque a maioria das que jogam só podem ser lésbicas, né?)
Ao ver este tipo de cenário, é obvio que poucos developers arrisquem e mandem cá para fora um jogo com uma personagem feminina de jeito.
Eu não estou com isto a dizer que todos os gamers são assim, tanto quanto vejo só uma minoria é que realmente pensa desta forma. Infelizmente, essa minoria é também o pessoal que mais ‘barulho’ faz e acaba por ser a mais audível e, portanto, é a mensagem deles que passa mais facilmente para os developers.