Jogar&Repetir

Rain World é sublime

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Rain World é simultaneamente um videojogo e um trabalho de expressão artística. Sobejamente conhecido pela complexidade do seu ecossistema e a sua natureza por vezes imperdoável, este é definitivamente uma experiência para jogar&repetir.

Existem poucos jogos que têm uma identidade tão original que chega a ser difícil compará-los com outras experiências. Rain World à primeira vista pode parecer um jogo de plataformas 2D mas é muito mais do que isso. É um encontro de frente com a realidade da existência, como ela pode ser alegre; triste; desoladora; surpreendente e imprevisível.

Este jogo é uma experiência singular, tão diferente na sua abordagem que não existe mais nenhum videojogo como ele. Rain World é um daqueles títulos que é preciso jogar para compreender o brilhantismo e ter um vislumbre da quantidade de trabalho que foi necessária para que ele se tornasse uma realidade.

Enquanto jogadores nós classificamos os jogos, atribuímos-lhes géneros mas, de vez em quando, há experiências que nos surpreendem de tal forma e cujo impacto é tão profundo, que elas parecem estar a falar connosco.

É nestes momentos que conseguimos perceber que um jogo cumpriu inteiramente o seu objetivo e Rain World é precisamente um desses jogos.

Uma história de sobrevivência

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No jogo nós vestimos a pele de um “gato-lesma” que é uma mistura entre um gato adorável e uma lesma. Logo à partida é impossível não darmos por nós a pensarmos: “mas que raio de criatura é esta?”.

Este gato-lesma é acima de tudo uma criatura em apuros que foi separada da família numa inundação assustadora. A partir desse momento somos nós que temos o controle e a nossa missão é sobrevivermos num ambiente que não nos é nada favorável.

É por esta altura que percebemos que afinal Rain World não é apenas um jogo de plataformas 2D mas também um jogo de sobrevivência. E um gato-lesma perdido, que não é propriamente um animal forte ou musculado, não terá pela frente um desafio nada fácil.

De facto o mundo de Rain World é estranho e perigoso, existem predadores à espreita e aguaceiros torrenciais perigosos. Enquanto isto o nosso gato-lesma só quer encontrar a sua família, comer e manter-se vivo.

A história é muito simples e isso acontece porque ela é-nos contada pelo ambiente que nos rodeia e pelas interações do gato-lesma com esse mesmo ambiente. As ruínas de uma civilização antiga, as criaturas que habitam este mundo intrigante, todas contam a verdadeira história por detrás da história.

É sem dúvida um ambiente inóspito e no qual todos fazem o que podem para sobreviverem, mas é também um mundo que progrediu e que se adaptou depois da tragédia. Se olharmos com atenção podemos observar a simbiose entre tecnologia e a matéria orgânica e como todas as criaturas, até as menos perigosas, arranjaram forma continuarem a viver.

A jogabilidade

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Rain World joga-se no estilo plataformas 2D com muitos saltos à mistura. Mas para além dos saltos existem outras mecânicas de sobrevivência.

Precisamos de comer, e para isso temos flora e fauna comestível. A ideia de comermos outras criaturas talvez não seja agradável, mas neste mundo isso é fundamental para a sobrevivência.

Para além disso podemos usar uma variedade de objetos como armas. Desde pedras, lanças e até granadas especiais que nos ajudam a combater as criaturas mais agressivas.

Todos estes elementos estão integrados com a jogabilidade de plataformas 2D e funcionam muito bem. A utilização correta das armas pode exigir alguma prática, mas não é nada que não esteja ao alcance do jogador comum.

Apesar de este ser um jogo simples de se jogar, o nível de dificuldade pode variar dependendo do que encontramos pela frente. Ou seja, este não é um daqueles jogos em que numa área específica encontras sempre o mesmo inimigo.

Pelo contrário a vida leva o seu curso independentemente da nossa presença e isso adiciona imprevisibilidade à experiência. O que existem são probabilidades, que é como quem diz, existe uma determinada probabilidade de que um determinado inimigo possa estar naquela área e depois é a sorte que decide se ele vai lá estar ou não.

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Há momentos que podem ser difíceis para um jogador que simplesmente teve azar e deparou-se com vários predadores mais perigosos, enquanto outros vão passar pela mesma área sem encontrarem um único predador pela frente.

Enquanto jogamos há momentos em que cai uma chuva letal e somos obrigados a procurar abrigo. Depois da chuva embora o mapa permaneça igual, inicia-se um novo ciclo que é como quem diz, o jogo faz “reset” e criaturas que encontraste anteriormente podem estar agora noutras áreas.

Os controles são precisos a partir do momento em que compreendemos a física do nosso gato-lesma. Depois tu decides o que fazer quando encontras perigo. Ou atacas, ou foges, ou até podes tentar arranjar um aliado improvável com uma oferta.

O que é interessante é que apesar de existirem predadores, também há criaturas que são passivas e algumas até são neutras à nossa presença. Com o erro aprendemos a identificar melhor o perigo e esse é um dos segredos para o sucesso em Rain World.

Grafismo e arte

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Rain World é invulgar até no grafismo, por vezes é estranhamente real, é como se a vida existisse por lá independentemente da presença do nosso gato-lesma.

De facto há uma razão para toda essa invulgaridade. A personagem principal é animada processualmente, eu não sou grande especialista na matéria, mas isso significa que a sua animação é determinada em tempo real através da interação que o código do jogo tem com o ambiente.

Depois há a complexidade do ecossistema e uma das razões pelas quais ele parece tão real. Ao contrário do que acontece com outros jogos, as criaturas não aparecem numa área quando nós lá entramos. A cada novo ciclo elas são colocadas numa área e por lá ficam a viver a sua vida antes da nossa chegada.

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Quando a nossa aventura começa, nós de facto entramos num ecossistema que já foi “programado para existir” independentemente da nossa entrada nele. As outras criaturas quer sejam inofensivas ou predadores, vão continuar as suas ações mesmo que nós nunca visitemos a área onde se encontram.

É claro que elas reagem à nossa presença, sobretudo os predadores, mas para além disso eles também reagem à presença uns dos outros. Por vezes é possível observar comportamentos fascinantes das outras criaturas, como dois predadores que se encontram e começam a lutar enquanto nós passamos pelo meio da confusão incólumes.

O grafismo, a arte e as animações estão em perfeita sintonia no mundo de Rain World. Há momentos de uma grande beleza visual melhores descritos como “arte em movimento” e que nos mostram que o design em 2D é um “poço sem fundo” de criatividade.

Uma experiência sem paralelo

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Rain World é de facto uma experiência sem paralelo no mercado. Ele é bastante original na sua abordagem técnica, o que lhe confere não só um visual único, como interações em jogo que variam entre o adorável e o sinistro.

Quando olhamos com atenção é também um daqueles jogos que nos faz pensar sobre a realidade da existência e, tal como acontece com o gato-lesma, como é sempre possível encontrar um caminho mesmo quando ele não é óbvio.

Talvez não seja um jogo à medida de todos os jogadores, mas aqui na Gaming Portugal é sem dúvida um dos nossos jogos preferidos e não temos dúvidas que é um jogo para jogar&repetir.


Rain World disponível na Humble Store Rain World disponível na Humble Store

Este jogo encontra-se disponível na nossa loja parceira. Se comprares utilizando o botão em baixo estarás a ajudar diretamente a Gaming Portugal e os nossos parceiros.

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Última atualização: Abril 10, 2024 às 09:40

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Helio Costa

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